domingo, 22 de junho de 2008
Ser buscador
Agora de regresso, muitas vezes sou confrontado por amigos e conhecidos pela habitual pergunta "como correu" logo seguida do "porquê". Se no início da minha viagem a resposta ao "porquê" era um "porque não", agora, passados dois meses de viagem e uma semana de regresso, penso-me e penso na viagem que fiz. E na resposta sai algo do género, "se a vida é uma viagem, a viagem será a vida?" Pelo menos, compreenderemos melhor esta coisa de viver, viajando? Sei que tive muito tempo, por viajar sozinho e numa moto, para pensar na vida, naquilo que a minha vida se compõe. Tudo o que vivi nesta viagem, sentimentos, experiências, alegrias, medos, frustações, conquistas, vivi-o num estado alternativo de existência, porque longe do que me era seguro. Não será também isso viver? Existir longe do que nos é naturalmente familiar? Desde muito novo, desde que me penso, que me sinto um alienigena nesta existência e só muito recentemente consegui começar a compreender o meu papel em toda esta peça a que chamamos de civilização. Todos representamos um papel que aceitamos melhor ou pior. Uns são personagens que chutam a bola e afectam milhões, outros médicos que descobrem curas para doenças terminais, outros ainda constroem naves para viajar no espaço e outros ganham a vida na política ou no sistema financeiro ou vendendo droga ou armas ou seres humanos. Uns aprimoram as suas apetências em artes, em ciências, em filosofias, outros ainda limitam-se a gerir o sopro de vida que lhes inflama alma de uma maneira inconsciente mas prática. Durante muito tempo questionei o meu papel nesta vida, algo que não compreendia muito bem porque me sentia diferente e incapaz de igualar. Fiz muita coisa na vida, música, reiki, fotografia, teatro, escrevi livros, gravei discos, leccionei informática, meditação e técnicas de relaxamento, tentei ser político, jogador de futebol, escriturário... fui motard, fotografo, viajante! Provavelmente ainda virei a ser algumas coisas mais... A mais comum das críticas que me fazem, é a de que não sei o que quero. Ainda desta viagem dizem que queria ir à China e depois me decidi pelo continente Europeu. Relativamente a esta última, foi uma escolha forçada porque não tinha o dinheiro suficiente para pagar a garantia bancária de 15 mil euros exigida pelo ACP nem as taxas exigidas pela China (estas num valor de 10 mil euros). O meu objectivo pessoal foi alcançado: viajar sozinho durante dois meses e numa moto. Porquê? Porque busco, porque me busco. Porque sou um buscador, um simples buscador. A vida é simples, a busca é simples. Para entender a vida é necessário ser simples, buscar simples. Não sou engenheiro nem primeiro ministro, não sou músico nem fotografo, não sou escritor nem mestre reiki, não sou mário, nem sou humano. Sou uma alma que busca. Buscar um sentido. Um sentido para existir, para experienciar, para Ser. Se encontrei esse sentido, esses sentidos? Claro que sim! Todos os dias encontro um novo, e de todos esses vou construindo o meu sentido, o meu sentir, o meu Ser. Daí que viajar, ser viajante, não é fazer férias ou ser turista. É ser uno com a vida, deixar fluir em nós o Universo, a essência de Ser. Quando nos entregamos de corpo e alma a uma busca, deixamos de ser homens e tornamo-nos imortais. Somos Cidadãos do Mundo, Seres Universais! Porque nos entregamos a uma busca, a uma epopeia, a uma quimera. E é uma entrega que não conhece limites, que não tem condições ou condicionantes. Confias e segues o teu instinto. Fazes as escolhas e sofres as consequências - boas ou más, mas sempre instrutivas. No fundo, é para isso que aqui andas, para fazeres as escolhas e entenderes as consequências. Tornas-te uma alma mais consciente de si próprias e das outras. Mais consciente do seu caminho, da sua origem e do seu destino. Mais alma.
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4 comentários:
Que a vida continue sendo uma viagem...
Acompanhei a viagem do Mário e foi com entusiasmo que o fiz (ler também é viajar). Achei-o inspirador e faço voto de que as nossas viagens e a vida continuem por muitos e bons anos. Que os ventos nos continuem a soprar de feição e que o sistema não nos aprisione numa rotina insonsa.
Cumprimentos,
António Rebordão
"Uns são personagens que chutam a bola e afectam milhões, outros médicos que descobrem curas para doenças terminais, outros ainda constroem naves para viajar no espaço e outros ganham a vida na política ou no sistema financeiro ou vendendo droga ou armas ou seres humanos."
Acrescentaria eu: ...outros, ainda, não têm vergonha na cara e aceitam cunhas para ir trabalhar para as autarquias, às vezes acompanhados de toda a família.
Apesar de geralmente desvalorizarem a corrupçãozinha - "eu estava muito mal psicologicamente e então o meu pai, coitado, arranjou-me um emprego depois de falar com fulano de tal" -, estes inúteis de sociedade ainda se dão ao luxo de meter licenças sem vencimento para ir arejar as ideias.
"A vida é simples, a busca é simples. Para entender a vida é necessário ser simples, buscar simples."
Claro que é simples. Por isso é que não se entende, Sr. Cales, a complicação que faz em volta da meia dúzia de anos que a gente costuma andar por cá.
Glosando o humorista da RTP1, apetece mesmo sugerir: e se o Mário Cales fosse "fazer qualquer coisa de útil p'rà sociedade"?
Cumprimentos.
Mário Rebelo,
Espinho
"A mais comum das críticas que me fazem, é a de que não sei o que quero."
POis é...a questão é que é por SABERMOS O QUE QUEREMOS que não dá pra viver uma existência tão curta, a trabalhar num emprego que não nos realiza, chegar á noite fazer as coisas de casa, cuidar dos miúdos e dormir (com calmantes) uma noite frustrada e mal dormida pra levantar no dia seguinte e voltar a trabalhar desde que o sol nasce até que se deita... a vida passa e nem como "os Eléctricos" a conseguimos ver passar.
"Quando nos entregamos de corpo e alma a uma busca, deixamos de ser homens e tornamo-nos imortais. Somos Cidadãos do Mundo, Seres Universais! Porque nos entregamos a uma busca, a uma epopeia, a uma quimera. E é uma entrega que não conhece limites, que não tem condições ou condicionantes. Confias e segues o teu instinto. Fazes as escolhas e sofres as consequências - boas ou más, mas sempre instrutivas. No fundo, é para isso que aqui andas, para fazeres as escolhas e entenderes as consequências. Tornas-te uma alma mais consciente de si próprias e das outras. Mais consciente do seu caminho, da sua origem e do seu destino. Mais alma."
Meu amigo de percurso, ambos sabemos que não é necessário nenhum comentário a um modo tão claro de esplanar a realidade.
No entanto...atravesso neste momento uma fase tão enquadrante neste "extrato de sentido de vida" que sinto necessário dizer-te: obrigada por teres cruzado o meu caminho!!
PC
"Se encontrei esse sentido, esses sentidos? Claro que sim! Todos os dias encontro um novo, e de todos esses vou construindo o meu sentido, o meu sentir, o meu Ser."
"É ser uno com a vida, deixar fluir em nós o Universo..."
"Confias e segues o teu instinto..."
Mais uma vez, relendo os teus testemunhos vou acordando a minha consciência, o meu sentido de vida, vou me acordando!
Tb ao meu colega de "defesa espacial" - SiriusFighter, recomendo uma reflexão sobre este pequeno trexos escrito pelo Mestre Mário, um dos Mestres do Universo!
bjux de Água
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