EuroScooter 2008

2 meses, 20 mil quilometros, 26 países europeus

uma Gilera Nexus 250:

A viagem a solo de Mário Cales pelas estradas da europa entre Abril, Maio e Junho de 2008.



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sexta-feira, 18 de abril de 2008

Dia 6 - na Rota do país dos Cátaros


1 comentário:

Unknown disse...

Caro Mário
Cá estou de volta à escrita para te falar, em primeiro lugar, dos Cátaros. Os estudos à volta do catarismo, assentam, sobretudo, em dois pilares: a sua religião e os castelos erguidos pelo Reino de França, na baixa Idade Média (séculos XI a XIII), na região do Languedoc (Sul de França), do qual o castelo de Quéribus que tu hoje fotografaste, é um belo exemplar. Referenciada como uma seita herética, cuja doutrina repousava sobre uma antiga concepção oriental – o maniqueísmo – atribuindo ao bem e ao mal duas origens distintas e eternas, crê-se que se espalhou na Europa através da pregação dos Bogomilos, uma seita que surgiu no antigo Império Búlgaro e que se afirmava como a “verdadeira e oculta Igreja Cristã”. A sua ramificação principal foi a dos albigenses, pois estava centralizada na cidade francesa de Albi. Rejeitavam os sacramentos e a liturgia, a propriedade, todas as formas de autoridade, e atribuíam à alma a faculdade de passar para outros seres. Em termos doutrinais existiam várias diferenças entre o catarismo e a prática romana: o seu livro sagrado era a Bíblia, em particular o novo testamento, mas de acordo com as suas crenças, Jesus Cristo não era filho de Deus, mas apenas um profeta importante; recusavam a hóstia sagrada, repartindo o pão nas suas cerimónias; não eram sexistas, permitindo que as mulheres celebrassem ritos religiosos; não reconheciam a autoridade papal; distinguiam os seus seguidores em perfeitos ou “bons homens” (praticavam o celibato e eram excelentes oradores), crentes (que se regiam pela virtude e humildade) e Ouvintes (simpatizantes da religião). Contudo, a grande diferença residia no facto de serem um grupo que acreditava na salvação pela acção pessoal e que cada ser era responsável pela sua salvação mediante a qualidade dos actos praticados. Estamos perante uma relação directa entre Deus e o Homem, que não necessitava de intermediários (a função do sacerdote na Igreja Católica Apostólica Romana). Partindo do princípio que o mundo era uma materialização do mal, ao ser humano cabia praticar o bem para que pudesse voltar ao paraíso perdido. Segundo algumas lendas, o Santo Graal teria caído nas mãos dos cátaros. No entanto, foram os cavaleiros templários que pela sua acção de resgate do Graal, teriam capturado os cátaros. É óbvio, que o grande objectivo dos templários era a imposição do catolicismo a todos os povos considerados hereges. E foi precisamente essa imposição pela força que levou a que o Papa Inocêncio III, em 1208, lançasse a Cruzada Albigense, para por fim à heresia cátara. A espada e a cruz, transformaram-se em armas letais para os cátaros. O sangue derramado em toda a região de Renne-le-Château é uma mancha negra que perdura na história da Igreja Católica. A dualidade entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas, ficou bem expressa na existência dos dois deuses cátaros: o Deus do Amor e o Deus do Mundo, que representam a essência do nosso viver. Caro Mário, parabéns por te lembrares desta região francesa, com um passado que se faz presente à medida que o vamos desmontando. Os castelos cátaros ficam para a próxima crónica.
Abraço
Armando Bouçon